Resenha: Dando nome ao Elefante

Rodrigo Dias
4 min readMar 29, 2022

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Imagem do banco de imagens: freepik

O livro Dando nome ao elefante: cosmovisão como um conceito foi escrito por James W. Sire (1933–2018). Sire foi professor de literatura inglesa, PhD em inglês pela Universidade do Missouri, Estados Unidos da América, e ainda atuou por mais de trinta anos como editor sênior da InterVarsity Press[1]. Publicado originalmente publicado em 2004 — e no Brasil em 2012 — este livro é composto por oito capítulos. O autor demonstra a evolução e ampliação de seu próprio conceito de cosmovisão a partir da primeira edição do livro O universo ao lado, de 1976.

O autor inicia com uma pequena história onde busca “ilustrar duas características de qualquer cosmovisão: seu entendimento da realidade primordial e sua natureza pré-teórica” (p. 25). Sire deixa claro que a presente obra surgiu de duas circunstâncias primárias. A primeira é sua insatisfação com a sua definição de cosmovisão, elaborada na primeira edição do livro O universo ao lado em 1976 (p. 28). A segunda é a publicação do livro Cosmovisão: a história de um conceito, de David Naugle, o qual “forneceu uma fonte rica de informações sobre a forma como esse termo e conceito se desenvolveram” (p. 29). O primeiro capítulo é finalizado com um guia de perguntas para cada capítulo seguinte.

O segundo capítulo é elaborado na investigação histórica do significado e utilização do termo cosmovisão. Iniciado no idealismo alemão e utilizado pela primeira vez por Immanuel Kant (1724–1804), “o termo é uma tradução do alemão Weltanschauung” (p. 35). Sire faz análise de definições de cosmovisão nas obras de Wilhelm Dilthey, Friedrich Nietzsche, Ludwig Wittgenstein, Michael Foucault, James Orr, Abraham Kuyper, Herman Dooyeweerd etc., até finalmente chegar em David Naugle.

No capítulo três, Sire tem como objetivo demonstrar a importância de afirmar as primeiras coisas, partindo para a análise de duas situações distintas: “(1) quando a ontologia precede a epistemologia e (2) quando a epistemologia precede a ontologia” (p. 79). Ser ou saber, qual é a primeira coisa? A resposta sapiencial é que a “ontologia deve preceder a epistemologia na formulação de uma cosmovisão. Do contrário estaremos baseando toda nossa cosmovisão na estrutura frágil do ego humano” (p. 109).

O autor, no capítulo quarto, busca responder como uma cosmovisão é formada e se o caráter dos princípios fundamentais são teóricos, pré-teóricos ou pressuposicionais. Após discorrer sobre cada um dos três como fundamentais nas cosmovisões, afirma que “eles se sobrepõem e nem sempre podem ser distinguidos; e formam a base de nosso pensamento teórico e influenciam profundamente a nossa ação prática”, bem como influenciam nossa maneira de viver (p. 132).

O quinto capítulo trata do conceito de cosmovisão na sua forma mais prática. Sire reconhece a necessidade de ampliar o conceito para incluir a realidade vivida, bem como a importância de inseri-la na narrativa bíblica que nos coloca em “contato com o modo que Deus, o mundo e nós realmente somos” (p.155).

No sexto capítulo é tratada a questão que todas as pessoas possuem uma cosmovisão, centralizando a discussão na relação entre as dimensões pública e privada. A cosmovisão no âmbito privado faz parte de quem uma pessoa é na sua totalidade. Sire afirma que a cosmovisão “será a tal ponto parte do que constitui unicamente o eu que não haverá nenhuma outra cosmovisão no universo idêntica à minha. A cosmovisão de uma pessoa é uma questão do coração” (p. 159). No âmbito público, o autor deixa claro que somos tanto indivíduos como membros de uma família humana, alguns pontos da “nossa cosmovisão são comuns não apenas à nossa família imediata, comunidade, nação ou século, mas ao todo da raça humana no tempo e espaço” (p. 159). A conclusão do capítulo mostra que existe uma cosmovisão que pode ser íntima e universal a todos. Seus detalhes para uma compreensão estão na Bíblia, e ela “é de fato uma cosmovisão profundamente gratificante, satisfatória, que é tanto pública como privada, tanto subjetiva como objetiva” (p. 176).

O autor apresenta uma definição refinada de cosmovisão no sétimo capítulo, onde também realiza uma exegese de cada parte dela. Vejamos a definição:

Cosmovisão é um compromisso, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expresso como uma estória ou um conjunto de pressuposições (suposições que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas) que sustentamos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica da realidade, e que fornece o fundamento no qual vivemos, nos movemos e existimos. (p. 179)

Sire conclui o livro demonstrando a importância de uma concepção filosófica e teocêntrica de cosmovisão, a qual ajudará a melhorar a minha e trazer entendimento sobre a cosmovisão de outras pessoas. O que contribuí para uma noção de que o cristianismo se apresenta como uma profunda visão teológica para uma vida coerente na história de Deus.

Em suma, Dando nome ao elefante é um importante livro introdutório sobre a temática de cosmovisão. Talvez seu ponto negativo esteja na forma resumida com que é apresentado o fator histórico do conceito. Porém, Sire conseguiu redefinir com humildade e sucesso o seu conceito de cosmovisão, motivando os leitores a compreender a importância de estudar o conceito.

Referências

[1] Fundada em 1947, a InterVarsity Press é uma editora americana de livros cristãos localizada em Westmont, Illinois, Estados Unidos. In: InterVarsity Press. In: WIKIPEDIA: a enciclopédia livre. Disponivel em: https://en.wikipedia.org/wiki/InterVarsity_Press. Acesso em 24 fev. 2022.

SIRE, James W. Dando nome ao elefante: cosmovisão como um conceito. Tradução de Paulo Zacharias e Marcelo Herberts. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2019. 246 p.

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Written by Rodrigo Dias

Cristão. Casado com a Bruna e pai da Olívia. Instagram: rodrigoddias

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